10 Tesouros em Talha Dourada em Lisboa


Muitas das simples fachadas das igrejas de Lisboa escondem interiores riquíssimos. Obedecem a um princípio de distinção entre o "corpo" e a "alma", em que o corpo (o exterior) é despojado e menos importante que a alma (o interior), rica e preenchida dos dons de Deus. Por isso, a partir dos finais do século XVII, as paredes das igrejas foram cobertas de painéis de azulejos e de talha dourada. Lisboa era o centro oficinal do país, havendo duas épocas de maior produção de talha -- durante o reinado de D. João V, em que se desenvolveu o "estilo joanino", e a segunda metade do século XVIII, o "estilo português", em que os motivos estruturais eram mais abundantes e o ornamento mais denso. As colunas dos altares portugueses eram inteiramente decoradas com motivos vegetalistas e florais, sobretudo com cachos de uvas, folhas de videiras, aves Fénix e meninos. Tudo se misturava perfeitamente com outras artes, como estuques, mármores, pintura e especialmente azulejos.
O uso da talha dourada na arquitetura portuguesa acabou por atingir a mesma importância que o mármore em Itália e a pedra em França. O resultado são alguns dos exemplos mais ricos, originais e artísticos da arquitetura barroca na Europa, e estes são os dez que não deve perder em Lisboa:



Igreja de Santa Catarina

Calçada do Combro (Bairro Alto)

Igreja de Santa Catarina, Lisboa

A talha dourada, de 1727, preenche grande parte do interior desta igreja, desde o altar-mor ao orgão. O altar-mor é considerado o exemplar mais destacado da arte da talha em Lisboa, e a decoração rococó em estuque no teto, do italiano Giovanni Grossi, é considerada uma das mais destacáveis no seu género a nível europeu.
É igualmente notável o altar de São Paulo (o primeiro logo à entrada), que combina elementos dos estilos nacional e joanino.


Igreja do Convento da Madre de Deus

Rua da Madre de Deus, 4 (Xabregas)

Igreja do Convento da Madre de Deus, Lisboa

O suntuoso interior da igreja do convento da Madre de Deus é preenchido por talha seiscentista, em parte emoldurando telas dos pintores André Gonçalves e Cristóvão Lopes. É uma obra esplendorosamente artística, em que a preciosa talha se mistura com painéis de azulejos monumentais.


Igreja de São Roque

Largo Trindade Coelho (Bairro Alto)

Igreja de São Roque, Lisboa

Esta igreja não só tem um dos conjuntos de arte sacra romana mais importantes do mundo, como também é decorada com várias obras notáveis de talha dourada. A Capela de Nossa Senhora da Doutrina, completamente coberta de ouro, é magnífica, apesar de a Capela de São João Baptista ser considerada a obra prima mais extraordinária.


Museu Nacional dos Coches

Praça Afonso de Albuquerque/Avenida da Índia, 136 (Belém)

Museu Nacional dos Coches, Lisboa

Várias obras riquíssimas em talha dourada destacam-se na grande coleção de viaturas artísticas deste museu. São coches de grande ostentação, sobretudo os construídos durante o reinado de D. João V, superiores a todos os outros estrangeiros, incluindo os de Luis XIV de França.


Convento dos Cardaes

Rua de O Século, 123 (Príncipe Real)

Igreja do Convento dos Cardaes, Lisboa

A igreja deste convento assinala um marco de grande relevância no desenvolvimento da talha em Lisboa. A sua construção terminou em 1693, emoldurando oito telas e preenchendo todo o altar-mor, que é considerado o maior exemplo do "estilo português" e um dos melhor preservados.


Igreja de São Miguel

Largo de São Miguel (Alfama)

Igreja de São Miguel, Lisboa

Todo o interior desta igreja é preenchido por talha dourada, mas o mais extraordinário é o altar-mor iniciado em 1723. Inclui imagens esculpidas dos Evangelistas entre diversos elementos ornamentais, numa intervenção artística dos dois maiores mestres entalhadores da época.


Igreja da Pena

Calçada de Santana (Pena)

Igreja da Pena, Lisboa

A decoração em talha dourada desta igreja era considerada arrojada no início do século XVIII, sendo a pioneira do estilo joanino em Lisboa. Foi aqui que a talha alcançou uma notável qualidade artística, repetida mais tarde noutras igrejas.


Convento da Encarnação

Largo do Convento da Encarnação (Pena)

Convento da Encarnação, Lisboa

Criado em 1719, com um magnífico conjunto escultórico com o tema da "Anunciação", o altar-mor desta igreja é uma das mais ricas obras artísticas de Lisboa, principalmente pela sua significação iconográfica. A igreja faz parte de um convento construído em 1630, e sofreu alguns danos no terramoto de 1755, mas o altar-mor escapou. Este é suportado por uma base de mármores policromos, enquanto as paredes da igreja estão decoradas com painéis de azulejos azuis e brancos da época. Infelizmente, poucas pessoas podem admirar esta obra de arte, pois tanto o convento como a igreja não se encontram abertos ao público.


Igreja dos Anjos

Avenida Almirante Reis (Anjos)

Igreja dos Anjos, Lisboa

Toda a decoração em talha dourada desta igreja data dos finais do século XVII a meados do século XVIII, preenchendo quase todo o interior. No entanto, o exterior neoclássico tem pouco mais de cem anos. A igreja original foi demolida para a construção da Avenida Almirante Reis, mas a riqueza decorativa foi preservada, incluindo o balcão decorado em mármore rosado. Há ainda várias telas e duas pinturas quinhentistas para admirar nesta igreja muito pouco visitada.


Igreja de Marvila

Rua Direita de Marvila, 13 (Marvila)

Igreja de Marvila, Lisboa

Construída como parte de um convento, esta igreja foi concluída em 1680, mas a decoração que se vê hoje no interior deve-se às obras iniciadas alguns anos mais tarde. Coberta de azulejos azuis e brancos e de talha dourada, é um belo exemplo do barroco português em Lisboa, muito semelhante à igreja do Convento da Madre de Deus.