Lisboa é das muito poucas cidades do mundo com o seu próprio som. New Orleans tem o jazz, Buenos Aires apresenta tango, o Rio de Janeiro mexe-se ao som de samba, e Sevilha dança o flamenco, mas o fado de Lisboa não é uma dança ou até mesmo música. Fado é a expressão de sentimentos, de saudade, ao som de guitarras. É também uma manifestação de esperança e uma celebração das complexidades da vida, da angústia e do amor. É um poema ou uma lamentação, e, para os turistas, nem é preciso saber português para sentir a emoção. Percebe-se na voz e nas expressões de quem canta (muitas vezes de olhos fechados), no preto do vestido ou fato (como se em luto), e nas pausas dramáticas durante a atuação.
O fado deve ser interpretado no escuro e num ambiente silencioso, apesar de também haver fados mais animados sobre a vida e as personagens típicas dos bairros antigos de Lisboa.
Tudo começou como o que hoje se chamaria de "música urbana", no princípio do século XVIII, nas ruas e bordéis lisboetas, apesar de historiadores acreditarem que a sua origem também estará nos marinheiros portugueses ou nos escravos do Brasil. A influência árabe também é evidente, mas essa poderá ter sido introduzida por Amália Rodrigues, a diva do fado que foi influenciada pela música andaluza.
Muitas das "casas de fado" de hoje são frequentadas principalmente por turistas e servem comida. Não oferecem as experiências gastronómicas mais criativas da cidade, mas, em muitas, não é obrigatório jantar, pois pode-se pagar um consumo mínimo para os espetáculos (geralmente entre 25 a 50 euros) e depois pedir uma garrafa de vinho, se o desejar. Há várias atuações ao longo da noite, por isso se não ficar fã do primeiro artista, aguarde pelo próximo.
Alguns espaços são mais informais e menos dirigidos a turistas, geralmente os dedicados ao "fado vadio", em que qualquer pessoa pode levantar-se e cantar. Nestes casos, a voz perfeira, sobriedade ou talento não são necessários, pois basta o espírito e a paixão pela tradição. Bons locais para este tipo de fado são a Tasca do Chico no Bairro Alto e A Baiuca em Alfama. Cada atuação termina com um grande aplauso e gritos de "É fadista!"
Os maiores apreciadores de fado, ou aqueles que simplesmente querem saber mais sobre a tradição, não devem deixar de visitar o Museu do Fado em Alfama. Os que desejam comprar albuns para ouvir em casa, devem procurar os de Amália Rodrigues, e os da nova geração de fadistas, que mantêm as tradições mas têm introduzido novos instrumentos. Os nomes que devem procurar são Mariza, Ana Moura, Carminho, Cristina Branco, Cuca Roseta, e Mízia.
Onde Ouvir Fado em Lisboa:
A Baiuca
Rua de São Miguel, 20 (Alfama)
218 867 284
Abre todos os dias
Preço por pessoa: €20
Este restaurante familiar é, há já duas décadas, um dos preferidos para fado vadio num ambiente informal, típico das taberna lisboetas dos finais do século XIX. Ou seja, o fado acontece de forma espontânea, e tanto canta um cliente, como a cozinheira ou o ajudante de cozinha.
O espaço é bem pequeno, com apenas meia dúzia de mesas, onde se serve cozinha tradicional portuguesa. No entanto, muitos turistas ficam à porta a espreitar as atuações.
A Severa
Rua das Gáveas, 51 (Bairro Alto)
213 428 314
www.asevera.com
Encerra à quarta-feira
Preço por pessoa: €45
Batizado com o nome da primeira estrela do fado, este espaço nasceu em 1955, e é o que tem permanecido mais tempo na mesma família (já conta três gerações). Pouco tem mudado desde a abertura, pois continua a servir cozinha tradicional portuguesa num ambiente típico (com uma decoração composta por belos azulejos e fotografias antigas de Lisboa) e a escolher os fados mais clássicos.
Adega Machado
Rua do Norte, 91 (Bairro Alto)
213 422 282
www.adegamachado.pt
Abre todos os dias
Preço por pessoa: €50
É a casa de fados mais antiga de Lisboa, mas a sua história começa em Paris. Em 1937, o violista Armando Machado integrou uma comitiva de fadistas que se deslocou à capital francesa para um espetáculo em homenagem à rainha D. Amélia, que se encontrava exilada em França. Foi aí que surgiu a ideia de abrir uma casa em Lisboa onde se ouvisse fado todos os dias, o que acabou por acontecer nesse mesmo ano. Assim, esta casa tem mais de oito décadas, e continua a ser uma das mais procuradas no Bairro Alto. Hoje, além do elenco residente, conta com artistas convidados, e, depois de obras realizadas em 2012, encontra-se dividida em três espaços -- a sala principal onde se servem os jantares, uma adega moderna para petiscos e vinho a copo, e um terraço ao ar livre.
Café Luso
Travessa da Queimada, 10 (Bairro Alto)
213 422 281
www.cafeluso.pt
Abre todos os dias
Preço por pessoa: €45
O Café Luso é uma das mais emblemáticas casas de fado de Lisboa. Foi a segunda a abrir, em 1940 (já existia como café, desde 1927, na Avenida da Liberdade), ocupando uma antiga adega e cocheira de um palacete no Bairro Alto. Mantém as abóbodas e a estrutura arqueada do edifício original, que lhe confere uma boa acústica. Por aqui passaram os maiores nomes do fado, incluindo Amália Rodrigues, no início da sua carreira. Nos anos 90, com nova gerência, passou a apresentar também folclore do norte de Portugal, mas hoje voltou a dedicar-se sobretudo ao fado.
Ao jantar, serve cozinha tradicional portuguesa.
Casa de Linhares
Beco dos Armazéns do Linho, 2/Rua de São João da Praça (Alfama)
910 188 118
www.casadelinhares.com
Abre todos os dias
Preço por pessoa: €50
A antiga residência dos Condes de Linhares (aristocratas descendentes de D. Fernando I) é agora esta requintada casa de fados. Grande parte do edifício original (onde o poeta Luís de Camões também chegou a viver) ruiu no terramoto de 1755, mas preservam-se o teto e as arcadas da sala principal.
Uma das grandes fadistas da atualidade, Ana Moura, já atuou aqui, e teve como público Mick Jagger, Keither Richards e os outros "Rolling Stones", que acabaram por convidá-la a participar num dos seus concertos. O elenco residente continua a contar com alguns dos mais renomados fadistas da cidade, e da cozinha saem bons pratos da cozinha tradicional portuguesa, incluindo várias entradas.
Clube de Fado
Rua de São João da Praça, 94 (Alfama)
218 852 704
www.clubedefado.pt
Abre todos os dias
Preço por pessoa: €50
Este "clube" tem dado a conhecer muitos jovens fadistas e músicos, selecionados por Mário Pacheco, um dos mestres da guitarra portuguesa. Um dos maiores nomes da nova geração de fadistas, Mísia, começou aqui a sua carreira. O espaço, a poucos passos da Sé, conta séculos de história, com colunas de pedra antigas e até um poço mouro. Ao longo das suas mais de duas décadas, tem sido uma das casas de fado mais recomendadas, e por isso tem atraído personagens ilustres como, por exemplo, Woody Allen. A gastronomia aposta na cozinha tradicional portuguesa, com destaque para os pratos de bacalhau e marisco.
Maria da Mouraria
Largo da Severa, 2-2B (Mouraria)
218 860 165
mariadamouraria.pt
Encerra à segunda-feira e terça-feira
Preço por pessoa: €50
Começou por chamar-se “Casa da Severa,” pois ocupa a casa onde terá vivido Maria Severa, reconhecida como a primeira grande fadista. A casa foi totalmente reabilitada, e abriu como casa de fados em 2013. Mudou de nome para não se confundir com a “A Severa” no Bairro Alto. Decorada com peças do início e meados do século XX (rádios antigos, bonecos, máquinas de costura) e com quadros cedidos pelo Museu do Fado, é um espaço acolhedor, onde se servem petiscos e pratos de cozinha tradicional portuguesa. O elenco inclui alguns grandes nomes, como Helder Moutinho.
Mesa de Frades
Rua dos Remédios, 139A (Alfama)
917 029 436
Abre todos os dias
Preço por pessoa: €60
Tornou-se a casa de fados mais conhecida no mundo, depois de Madonna a ter frequentado quando se mudou para Lisboa e ter partilhado vídeos nas suas redes sociais (incluindo um dueto com a fadista Celeste Rodrigues). É um espaço muito pequeno, que foi uma capela no século XVIII e mais tarde uma mercearia e taberna. Os painéis de azulejos barrocos da capela foram mantidos, o que faz deste também um dos mais belos espaços para uma noite de fados. Conta sempre com um bom elenco de fadistas, e é muitas vezes ponto de encontro dos grandes fadistas profissionais. No antigo altar instalou-se a cozinha, onde se preparam os pratos de cozinha tradicional portuguesa.
O Faia
Rua da Barroca 54-56 (Bairro Alto)
213 426 742
www.ofaia.com
Encerra ao domingo
Preço por pessoa: €55
Abriu em 1947 com outro nome, mas este espaço tem sido sempre uma casa de fados. É "O Faia" desde os anos 90, e é onde muitos turistas acabam por viver uma experiência cultural, que mistura a música e a gastronomia nacional. Os jantares são acompanhados por quatro fadistas e dois músicos, e o menu encontra-se dividido em entradas, sopas, saladas, pratos vegetarianos, pratos de peixe e marisco, carnes e sobremesas.
Parreirinha de Alfama
Beco do Espírito Santo, 1 (Alfama)
218 868 209
www.parreirinhadealfama.com
Encerra à segunda-feira
Preço por pessoa: €40
Esta casa de fados, aberta nos anos 50, encontra-se escondida perto do Museu do Fado e é reconhecida como uma das mais autênticas da cidade.
Teve como proprietária a fadista Argentina Santos, que também atuava juntamente com outros artistas residentes (Amália Rodrigues chegou a ser um deles).
A cozinha é, naturalmente, portuguesa, com influências de diferentes partes do país.
Senhor Fado
Rua dos Remédios, 176 (Alfama)
218 874 298
www.sr-fado.com
Encerra à segunda, terça, e sexta-feira.
Preço por pessoa: €35
Jantar neste restaurante familiar é como estar numa casa de amigos, desfrutando de cozinha tradicional portuguesa e fado ao vivo. Os proprietários são uma fadista e um violista, que também costumam atuar, e garantem que o ambiente é sempre acolhedor e o serviço atencioso.
O fado começa quando as refeições terminam e as luzes se apagam.
Senhor Vinho
Rua do Meio à Lapa, 18 (Lapa)
213 972 681
www.srvinho.com
Abre todos os dias
Preço por pessoa: €50
Situa-se na Lapa, longe dos bairros mais "típicos" e do roteiro turístisco, mas é considerada a "catedral" do fado. Isto porque, desde que abriu em 1975, tem divulgado grandes talentos como Mariza, Ana Moura e Camané. A proprietária é outro nome bem (re)conhecido, a fadista Maria da Fé, que tem garantido que esta se mantenha uma paragem obrigatória no roteiro do fado em Lisboa.
O cardápio gastronómico inclui especialidades da casa, peixe fresco e bifes.
Tasca do Chico
Rua do Diário de Notícias, 39 (Bairro Alto)
961 339 696
Abre todos os dias
Preço por pessoa: €15
Este bar, aberto em 1993, é conhecido pelo fado vadio, ou fado amador, num ambiente sempre bem-disposto e castiço. Mesmo quando não se ouve fado, este é um dos destinos obrigatórios no Bairro Alto, pois mantém o ambiente das típicas tascas lisboetas.
É também conhecido pelo chouriço assado, que é, seguramente, a segunda especialidade da casa.